29/04/2011

REDUÇÃO DE DANOS

Redução de danosPDFImprimirE-mail
Folha de São Paulo - DRAUZIO VARELLA 

A questão da vida saudável desvia a medicina de sua função: aliviar o sofrimento humano

OS BRASILEIROS engordam cada vez mais. Em 13 anos estarão tão obesos quanto os americanos de hoje. Em pouco mais de uma década a paisagem humana de nossas cidades será a mesma que choca os turistas quando levam os filhos à Disneylândia.
É paradoxal: de um lado, nunca fomos expostos a tanta informação de qualidade sobre a conveniência de adotar a assim chamada alimentação saudável, beber com moderação, praticar atividade física e não fumar; de outro, adotamos o estilo de vida oposto.
O fenômeno é mundial, poupa apenas os países muito pobres em que há falta de comida e de acesso ao conforto que a tecnologia proporciona. 
Se toda a humanidade se comporta dessa maneira, sou forçado a questionar o papel da medicina no mundo moderno.
Há mais de 40 anos repito para meus pacientes que o corpo humano é uma máquina desenhada para o movimento, que a rotina sedentária e o excesso de calorias ingeridas apressam o envelhecimento e encurtam a duração da vida. Pareço o sacerdote no púlpito a insistir que os fiéis resistam às tentações da carne, diante da igreja surda.
A questão da vida saudável transforma o médico num defensor involuntário da moral e dos bons costumes e desvia a medicina de sua função primordial: aliviar o sofrimento humano. Explico o que quero dizer, caríssimo leitor.
Um homem me procura porque bebe demais. O que posso fazer para ajudá-lo? Aconselhá-lo a beber com moderação? Explicar que a bebida faz mal? Receitar os poucos medicamentos que a medicina desenvolveu para enfrentar de forma pífia uma tragédia pessoal dessa magnitude? Ou encaminhá-lo para os Alcoólicos Anônimos?
A experiência me ensinou a confiar mais nos Alcoólicos Anônimos, por uma razão simples: os resultados são melhores. Existe exemplo mais ilustrativo da incompetência médica do que curar menos do que um grupo de autoajuda?
Na cadeia, atendo mulheres que imploram tratamento para largar da cocaína. Chegam desesperadas, cheias de dívidas que lhes ameaçam a integridade física. O que a medicina tem para oferecer-lhes além de aconselhá-las a dizer não às drogas?
De que armas o médico dispõe para tratar as compulsões que infernizam aqueles que assaltam geladeiras na calada da noite, fumam, jogam, bebem, compram sem parar ou usam crack?
No início da epidemia de Aids, atendi um policial de 40 anos, pai de três filhos, que me pedia para encaminhá-lo a um cirurgião que o castrasse. Contou que não conseguia passar duas ou três semanas sem usar cocaína. Sob a ação da droga, invariavelmente ia atrás dos travestis que trabalham nas ruas, e acabava a noite nos hoteizinhos mais sórdidos da cidade. Nesses locais, já havia sido espancado e assaltado mais de uma vez.
Ingênuo como eu era na época, expliquei que a causa de sua desventura não era a sexualidade, mas a cocaína. Respondeu que estava cansado de saber, o problema é que não conseguia evitar as recaídas; se pelo menos a libido lhe desse trégua, seria possível reduzir os danos que a droga lhe causava.
Tentei inutilmente convencê-lo a desistir da ideia da castração, cirurgia de consequências irreversíveis, mas ele estava tão decidido que sugeri uma medida alternativa: tomar uma injeção de uma droga que bloqueia a produção de testosterona durante três meses, período que lhe daria mais tempo para reflexão.
Dois meses mais tarde, ele retornou, feliz com o resultado. Não havia abandonado a cocaína, mas estava livre da compulsão sexual.
O exemplo é didático. Não é papel do médico julgar comportamentos de acordo com seus critérios morais, nem é aceitável que a medicina atribua ao doente a culpa moral por ser portador da enfermidade que o aflige.
A ciência médica moderna deveria abandonar a ficção ridícula de transformar seres humanos preguiçosos, compulsivos, cheios de defeitos e vícios que prejudicam o organismo, em rebanhos de cidadãos bem comportados que passem a existência dedicados a cuidar da saúde acima de tudo, porque sempre haverá aqueles que acharão sem graça viver dessa maneira.
O que nos falta são tratamentos eficazes e recursos técnicos para reduzir os danos da obesidade, do sedentarismo, da dependência química e das compulsões autodestrutivas que nos atormentam.

28/04/2011

CAPS BEIJA-FLOR

O CAPS Beija-Flor, atualmente atende a região sudoeste e campinas de Goiânia, com  público acima de 18 anos. Segue composto por equipe multidisciplinar: Gestor(as): Diretor(a) Geral, supervisor(a) administrativo e Técnico; Médicos(as), Psicólogos(as), Assistentes Sociais, Enfermeiro, Técnicas de Enfermagem, Terapeutas Ocupacionais, Arteterapeutas, Profº(a) de Educação Física, Farmacêutica, funcionários no Apoio e Administrativo. O CAPS funciona por um período de 12 horas diárias, exceto fim de semana e feriado, com tratamento aberto e ambulatorial. Os usuários são acolhidos por profissionais que avaliam o sofrimento psíquico, entre moderado a grave. Como critério para tratamento, frequentam o CAPS de acordo com um projeto terapêutico, que sugere atendimento de maneira ampliada, construindo um plano de vida, para obtenção de autonomia e reinserção social, elaborado de forma a atender especificidades individuais. Para tanto, a unidade possui espaço físico, com salas para atendimentos em grupos e individuais; farmácia, posto de enfermagem, sala para consulta médica, sala de atividades ocupacionais e artísticas; área aberta para convivência, jogos, refeitório, cozinha, banheiros, sala para os técnicos da administração/recepção. São realizadas inúmeras intervenções: acolhimento, atendimento em psiquiatria, psicoterapia individual e grupal; ações de cidadania; grupos de família; campanhas de promoção à saúde, conforme calendário fornecido pelo Distrito Sanitário Sudoeste; encaminhamentos para atendimentos na comunidade, buscando a rede entre unidades de saúde (CIAMS, ESF, outros) o CAPS e outras redes intersetoriais; são realizados estudos de caso individual e junto à equipe; orientações ao usuário e familiares; visita e assistência domiciliar; visita Institucional; busca ativa junto aos familiares ou responsáveis, nos casos de interrupção da frequência na unidade; reuniões do conselho local de saúde; assembléias; atendimento e acompanhamento nas residências terapêuticas/RTs; conferências de saúde; eventos comemorativos como aniversário do CAPS e de usuários; festas; passeatas pelo 18 de maio - luta antimanicomial. Atualmente segue com projeto de Jornal do CAPS: ZumZumZum do Beija-Flor, em oficina do CAPS e edições bimestrais. Inicia Apoio matricial em saúde mental na atenção básica, e projeto piloto no UABSF Grajaú. Pretende acompanhar casos leves a moderados, na região sudoeste, sem atendimento especializado, ou envolvendo situações de cárcere domiciliar, buscando a prevenção e promoção da saúde. O CAPS Beija-Flor mantém oportunidade de maiores informações sobre o serviço, com abertura às visitações de estudantes, estagiários ou outras equipes de saúde, e que se encontram em processo de inauguração de CAPS no interior do estado.

Fonte: Nota dos colaboradores da oficina de comunicação do CAPS / reunião da equipe do Beija-Flor